Adeus Orientação vocacional – 4 motivos pelos quais isso está em extinção

Um contexto de constante mudança; pessoas mudando de emprego de 2 em 2 anos; cadeias decisórias complexas e a sociedade em constante transformação são fatores que forçam a uma evolução nos métodos de aconselhamento de carreira.

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Já reparou que o termo “orientação vocacional” está em desuso? Por que isso?

O conteúdo deste artigo virou vídeo! Assista!

Antes de mais nada, vamos nos situar.


Hoje vivemos na sociedade do conhecimento. Não falta informação às pessoas, pelo contrário, existe um excesso de informação e as pessoas têm dificuldades em processar tanta informação. Soma-se a isso a globalização e tecnologias de informação, temos um cenário no mundo do trabalho bem diferente do que era antes.

A nova organização social do trabalho é composta pela proliferação de tipos de trabalho (RPA, freelance, meio período, temporário, PJ, externo, etc) e novos trabalhos (exemplo: Motorista de Uber não existia há 10 anos e ninguém conseguiu prever que esta profissão existiria. Igualmente surgirão novos trabalhos o qual não conseguimos prever).


Temos um novo cenário onde as perspectivas profissionais são cada vez menos definidas e menos previsíveis e as transições de carreira cada vez mais frequentes e dificeis.

Logo, o motivo número 1 pelo qual o Orientador vocacional “perdeu” espaço de atuação nos dias de hoje é que o contexto mudou.


1) A Importância do Contexto.


O orientador vocacional, ao aplicar testes comprotamentais, testes de perfis profissionais, testes de aptidões, traços de personalidade e fatores de capacidades “estáveis”, ele foca muito no individuo e nada no contexto.

Esses “testes” excluem a informação do contexto. Ou seja, uma abordagem que tenta diagnosticar o melhor ajustamento pessoa-meio sem levar em consideração a informação contextual é uma abordagem antiquada, pois sabemos que o comportamento humano não é apenas função da pessoa, mas também do contexto.

Quer dizer que precisamos jogar no lixo todos os resultados de testes comportamentais? Não!

Talvez usá-los como um ponto de partida para começar uma reflexão à respeito de nossas carreiras seja o ideal. Afinal de contas, os métodos de aconselhamento de carreira já evoluiram muito nos últimos anos e existem ferramentas mais eficientes para este fim – Leia até as conclusões para entender isso!

2) Não existe mais a escolha de uma profissão para a vida toda.


O segundo motivo pelo qual a chamada “orientação vocacional” tem se mostrado uma metodologia pouco usada atualmente advém do fato de que as novas gerações não pensam mais em uma profissão para toda a vida.


Um estudo realizado pelo Departamento Americano de Estatística do Trabalho mostrou que a maioria dos jovens de até 36 anos muda de emprego, em média, a cada 2 anos. Sendo assim, como um orientador vocacional pode prescrever carreiras se as pessoas seguem mudando de emprego?

3) As cadeias decisórias das pessoas são individuais e mutáveis.


As pessoas não se comportam iguais a robôs. Parece óbvio mas os antigos orientadores vocacionais acreditavam numa lei geral que de acordo com as apitidões e interesses de um individuo era possível predizer o desenvolvimento de carreira da pessoa.


As cadeias decisórias são individuais e mutaveis. Isso que dizer que pessoas não se comportam de maneira racional sempre. Portanto, continuar acreditando em explicações causais simples e lineares para garantir o sucesso num emprego ou formação é algo irreal. Os novos métodos de aconselhamento de carreira devem levar em consideração dinâmicas complexas como a regra e não como a exceção.

4) Estamos evoluindo enquanto sociedade.


Atualmente coexistem no mercado de trabalho uma diversidade de realidades individuais que não existiam antigamente. Como assim?


Bom, antigamente o profissional seguia um pensamento tradicional de que primeiro vinha a educação, logo o trabalho e por fim formar uma familia. Qualquer coisa que se diferenciasse disso perdia um pouco do seu reconhecimento social. Assim, o orientador vocacional, uma vez que todos seguiam uma trajetoria profissional tradicional “parecida”, podia prescrever profissões, encaixar pessoas em determinadas área, porque todos queriam seguir mais ou menos o mesmo caminho, e os que não seguiam eram “rejeitados” pela mundo do trabalho. Porém, felizmente, estamos evoluindo enquanto sociedade.


Hoje coexistem identidades e realidades subjetivas múltiplas. Pessoas de todas as idades retornam à escola, perdem seus empregos, divorciam-se, etc. e não perdem seu reconhecimento social por causa disso.

Além disso, o mercado tem ampliado cada vez mais a inclusão de pessoas com deficiencia, LGBTQI+, mulheres em cargos que antes elas não ocupavam, etc… pouco a pouco estamos evoluindo (claro que ainda temos um longo caminho pela frente), e essa evolução vem permitindo que pessoas com histórias de vidas, aspirações e trajetorias profissionais muito diferentes atuem juntas e esse fato torna ainda menos eficiente ferramentas “padronizadas” usadas pelos orientadores vocacionais antigos.

Conclusão

Podemos concluir deste texto pelo menos duas implicações práticas:


I) Para o indivíduo que está buscando se reencontrar na carreira.


Se você é alguém que está buscando recolocação no mercado ou se encontra num momento de vida de transição e está confuso, se perguntando o tempo todo “o que eu faço da minha vida?” (o que é super normal tá? MUITA gente está assim), ao invés de buscar um orientador vocacional que possivelmente vai te aplicar testes e te dará conselhos relativos (o que vai fazer você ter ainda mais informação, o que você já tá cheio) e que vai te diagnosticar e prescrever profissões, busque um conselheiro de carreira ou um profissional que tenha a habilidade de cocriar e acompanhar um projeto não só de carreira, mas de vida.

1+1=3 ! Quando duas mentes cocriam, a sinergia gera um resultado maior do que a soma das partes!


Busque alguém que te ajude a ter uma visão holistica. Alguém que te auxilie a construir uma narrativa, cocriando para enxergar aquilo que tem sentido na sua vida, te ajudando a ganhar consciência daquilo que realmente importa pra você – Dessa maneira você mesmo será capaz de determinar seus próximos passos profissionais.


II) Para o profissional que atua diretamente auxiliando pessoas.


Se você é um profissional de Recursos Humanos (RH) ou está diretamente ajudando às pessoas em suas buscas profissionais (líder; coach de carreira; aconselhamento de carreira; Mentor profissional, etc.), a dica é: mude a pergunta que guia o seu trabalho de:


“Como combinar indivíduos e profissões?”


para a pergunta:


“Como é que este indivíduo poderia construir melhor a história da sua vida na sociedade em que ele vive?”


Esta motivação de trabalho põe foco tanto na historia individual de cada um (elemento narrativo) como leva em consideração o contexto (sociedade em que o indivíduo vive). Ajudar os individuos a construirem suas vidas através do seu trabalho, auxiliando cada cliente/funcionário/pessoa a auto-organizar suas multiplas experiências de maneira a se posicionar melhor porfissionamente é uma tarefa muito nobre e muito útil nos dias de hoje!

Lembrem-se: As pessoas constroem-se a si mesmas através do que elas fazem e dos discursos que elas constrões sobre o que elas fazem.

Captou toda a essência da frase acima? Não? Bom, caso tenha interesse em entender melhor essa frase e de como isso funciona na prática, deixe nos comentário que fazemos um post novo inteirinho sobre isso!


Até mais,
Luiz Perrotta

4 Comments

  1. Olá Luís

    Não acredito no que diz.
    Por vários motivo mas vou especificar somente um muito simples ….. apesar de todas as mudanças que a vida no trás nos somos seres único e especiais, podemos ate evoluir a todos os níveis profissionais mas não perdemos a nossa excelência, quando me diz que a orientação vocacional já não é usada, para afirmar isto assim eu te pergunto.
    vôce já fez alguma vez uma orientação vocacional na sua vida?
    Se responder sim é porque sentiu o bom que foi a sensação que é descobrir as tuas habilidades, competências, valores, interesses, neste mundo tão concorrente foi bom saber quais são os teus super poderes e assim trabalhar com neles, poupou tempo, energia e dinheiro, se focou e venceu. Não é uma sensação boa?
    ESTE ARTIGO IMPEDE AS PESSOAS DE PROCURAR AJUDA ESPECIALIZADA DE PSICÓLOGO E ORIENTADORES, E MANTÉM AS PESSOAS NO ESCURO E CONFUSA NUM MUNDO COM TANTO NEVUEIRO.

    • Olá, Fátima!
      Obrigado por contribuir com a discussão!
      Concordo que autoconhecimento é muito mágico! É uma sensação muito boa quando você descobre aspectos sobre você mesmo que antes nunca tinha parado para pensar. Alias é justamente por isso que o SuaEvolucao.com.br existe! Queremos incentivar as pessoas neste processo.
      Contudo, quando hoje uma pessoa busca por orientação vocacional ela deve estar ciente de que ela vai ser submetida a uma metodologia antiga e generalista(em geral testes e análises de perfil) e que hoje os estudos sobre carreira/psicologia/coaching evoluiram e possuem metodologias mais modernas e individuais.

      Se a pessoa nunca antes buscou desenvolvimento pessoal, estes testes comportamentais e analises de perfil são uma ótima maneira de começar a se autoperceber, mas hoje sabemos que a “euforia” que estes testes geram na pessoa é uma sensação passageira e, por si só, não são suficientes para “vencer”. A busca por desenvolvimento pessoal é constante e metodologias genéricas, isto é, que servem para qualquer pessoa, são boas apenas para gerar uma reflexão inicial.
      Se quer saber sobre novas metodologias principalmente sobre desenvolvimento de carreira, acesse este artigo:
      https://suaevolucao.com.br/aconselhamento-de-carreira/

      Mais uma vez obrigado pelo ponto de vista!
      Um Abraço
      Equipe Sua Evolução

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