Sensemaking: O processo de atribuir significados

Sensemaking é o processo de atribuir sentido ao que acontece a nossa volta. Estamos constantemente interpretando eventos. Tenha clareza de como funciona esse processo e saiba como lidar melhor com uma crise.

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sensemaking
  • Por que as pessoas atribuem significados tão diferentes a um mesmo acontecimento?
  • Como indivíduos dão sentido aos eventos que acontecem?
  • Como se dá o processo cognitivo de construção de significados?

Essas questões são particularmente relevantes em momentos de crise. Pois numa crise, como por exemplo uma demissão, um término de relacionamento ou uma perda financeira, precisamos parar para “digerir” o que aconteceu.

Mas não apenas em momentos de crise. Na verdade, estamos o tempo todo “digerindo” tudo que acontece. Tanto individualmente como coletivamente.

Esse processo de “digerir fatos”, tem um nome técnico, chama-se Sensemaking.

Sensemaking é o processo ao qual todos nós estamos constantemente engajados: dar sentido ao que acontece a nossa volta. Estamos constantemente interpretando eventos. Assim, o sensemaking é um processo natural de todos nós.

Logo, se estamos o tempo todo fazendo isso, é importante entendermos como funciona esse processo, não é mesmo?

Segundo um estudo da universidade de Saint Mary’s, no Canadá, o processo de atribuição de sentidos (Sensemaking) é influenciado por 7 propriedades inter-relacionadas. São elas:

1) Identidade

Quem nós somos e os fatos que moldaram nossas vidas influenciam a forma como vemos o mundo.

Pais, amigos, religião, onde estudamos, onde trabalhamos, que tipo de trabalho fazemos, etc. afetam a forma como vemos determinadas situações.

letra de médico
“Eu sou assim.”; “Esse é o meu jeito”; “É assim que eu fui criado.”;…

Por exemplo: Alguns médicos acreditam tão fortemente que ter uma caligrafia feia faz parte de quem eles são, isto é, faz parte da identidade deles, que eles simplesmente (de forma inconsciente) bloqueiam qualquer tentativa de melhorar a caligrafia. Para essas pessoas, melhorar a letra, metaforicamente, seria o mesmo que largar sua identidade.

O ser humano é engraçado, não?

2) Experiências passadas

Segundo a pesquisa, nós nos baseamos em experiências passadas para interpretar eventos atuais. Assim, o sensemaking é um processo comparativo.

Em outras palavras, para interpretar o que acontece no presente, comparamos com um evento similar do nosso passado e confiamos que isso é suficiente para determinar todos os sentidos sobre aquilo que está acontecendo.

experiencias passadas
Quais as experiências esse menininho vai guardar com relação à pescaria, por exemplo?

O perigo aqui é que, como estamos constantemente moldando e omitindo memórias para reforçar nossa autoestima e reforçar o sentimento de que estamos no controle, corremos o risco de fazer interpretações e dar sentidos equivocados a alguns fatos.

3) Foco nas regras/regulamentos/sugestões que são dadas

Imagine o seguinte caso:

policial
“Não posso largar isso, acabou-se”

Um soldado recebe treinamentos de que jamais pode abandonar seu fuzil. Agora imagine que esse soldado se encontre numa situação de vida ou morte, onde ele precisa correr muito para sobreviver.

Neste caso, para um cidadão comum, “faria sentido” largar um fuzil que pesa 15kg para correr. Mas para o soldado, largar o fuzil poderia não fazer sentido, pois ele recebeu tantas sugestões/treinamentos/regulamentos de que jamais poderia largar o fuzil, que para ele a construção de sentidos seria totalmente diferente.

Portanto, o processo de sensemaking envolve o foco em certos elementos, ignorando completamente outros, a fim de apoiar nossa interpretação de um evento. Como a construção de sentidos é baseada em experiências passadas, todas as regras e regulamentos os quais fomos submetidos ditam que pistas extrairemos para entender determinada situação.(Mills, Thurlow, & Mills, 2010)

4) Dar preferência ao que é aceitável ao invés do que é exato.

Muitas vezes somos impulsionados pelo que é aceitável, e não por aquilo que seria preciso/exato.

Como assim?

Pegue o exemplo de um relacionamento afetivo. Neste caso, uma agressão física deveria ser interpretada como um motivo de término. Essa seria uma formação de sentidos baseada na exatidão. Contudo, sabemos que muitos casais não interpretam assim, pois eles focam nos aspectos que são aceitáveis.

Outro exemplo para mostrar que esta propriedade tem um sentido mais amplo:

Pense no mundo corporativo. Imagina que um grande cliente de uma empresa começa a atrasar os pagamentos e não honrar seus compromissos. Uma atitude exata seria parar de fornecer para esse cliente. Contudo, muitas empresas consideram aceitável esse atraso nos pagamentos e preferem continuar a fornecer.

Portanto, levar em conta o que é aceitável em vez do que é exato significa que não confiamos na exatidão de nossas percepções quando entendemos um evento. Em vez disso, procuramos pistas que façam nosso sentido parecer aceitável. Ao fazer isso, podemos distorcer ou eliminar o que é preciso/concreto/exato e, potencialmente, confiar na tomada de decisão incorreta para determinar o que é certo ou errado.

5) Interpretação do Ambiente

mendigo
“Ei, posso ter um minutinho da sua atenção?”

Se um mendigo nos para numa rua escura a noite, podemos interpretar isso como uma situação perigosa, pois acreditamos que o ambiente (rua escura a noite) é perigoso.

Contudo, se este mesmo mendigo aparece dentro da recepção de uma empresa o qual estamos aguardando para participar de um processo seletivo, pode ser que o tratemos bem, interpretando que a aparição dele se trata de alguma “pegadinha” do processo seletivo.

Isto é, se acreditamos que estamos num ambiente perigoso, tendemos a dar sentido ao que acontece como perigoso. Se estamos em um ambiente para sermos avaliados, tendemos a dar sentido ao que acontece como avaliação.

Assim, nosso sensemaking pode ser restringido ou criado pelo próprio ambiente que estamos (é um sensemaking dentro de outro sensemaking, pois nós interpretamos primeiro o ambiente e depois interpretamos o evento – são 2 sensemakings!!! Complexo, não?).

Para ficar mais simples:

É semelhante a uma profecia auto-realizável: Se você interpretou o ambiente de uma maneira X, então provavelmente você vai interpretar algum evento que aconteça como X também.

6) Adaptação Social

Esta propriedade reconhece que o processo de formação de sentidos(sensemaking) depende das nossas interações com os outros, fisicamente presentes ou não.

Exemplo: As regras, rotinas, símbolos e linguagem de uma empresa terão um impacto no sensemaking de um indivíduo e fornecerão roteiros para a conduta apropriada daquele indivíduo. (Mills et al., 2010)

Ou seja, nós formulamos os sentidos para os eventos dependendo do tipo de interação que vamos ter com outras pessoas.

Porém, quando rotinas ou roteiros não existem, o indivíduo é abandonado em suas próprias maneiras de dar sentidos.

7) Sensemaking nunca para

O sensemaking é um processo sequencial que nunca para porque os fluxos de formação de sentidos são constantes.

Estamos constantemente atribuindo sentidos ao que está acontecendo ao nosso redor. Entretanto, quando acontece um evento que causa uma ruptura da rotina, isolamos momentos desse processo contínuo de construção de sentido para entender a situação atual.

Em outras palavras, nós ficamos no piloto automático atribuindo sentindo a tudo que acontece a todo tempo, sem parar. Contudo, quando um evento disruptivo (que pode ser uma crise qualquer) acontece, paramos para analisar, entender e atribuir significados de uma forma mais consciente.

Conclusão

O processo de formação de sentidos (ou sensemaking) consiste em entender como diferentes significados são atribuídos ao mesmo evento.

Entender como funciona cognitivamente este processo é fundamental, visto que as pessoas precisam o tempo todo interpretar fatos para poderem decidir o que fazer na sequência.

Assim, da próxima vez que você se encontrar diante de uma crise desencadeada por determinado evento disruptivo, analise o cenário de uma forma mais técnica, fazendo o sensemaking. Faça-se as seguintes perguntas:

  1. Como a minha identidade pode estar afetando a maneira que enxergo essa situação? E se eu fosse uma pessoa com uma identidade totalmente diferente, como eu veria esse fato?
  2. Quais experiências passadas parecidas eu tive?
  3. Quais as regras, regulamentos, orientações e sugestões eu sempre segui em relação a este acontecimento?
  4. Posso estar buscando mentalmente uma resposta aceitável ao invés de uma resposta exata?
  5. Como estou interpretando o ambiente o qual estou inserido?
  6. Minha conduta está sendo adaptada socialmente?
  7. A interpretação que estou dando a este fato será a mesma para sempre ou, no futuro, darei novos sentidos ao ocorrido?

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Referências:

Mills, J. H., Thurlow, A., & Mills, A. J. (2010). Making sense of sensemaking: the critical sensemaking approach. Qualitative Research in Organizations and Management: An International Journal, 5(2), 182–195.

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